Tuesday

Project Creation - Entrevista

1 – O disco anterior “Floating World” já teve o selo da Progrock Records, a qual editou também este novo “Dawn On Pyther”. Como é que surgiu a colaboração com a Progrock?
Surgiu quando terminei o 2º álbum de Sonic Pulsar. Tinha algumas ideias para um segundo projecto que não se enquadravam na sua totalidade em SP. Peguei nestas ideias e enviei para a Progrock Records, que na altura estava com uma enorme visibilidade com as suas mais recentes releases.
Durante uma semana ouviram o álbum, ou as demos se assim quiseres, e depois recebi uma proposta para fazer parte da editora com Project Creation, o que foi excelente.

2 – Fala-me um pouco do processo de composição e gravação deste novo trabalho “Dawn On Pyther”.
Dawn on Pyther beneficiou de uma aprendizagem bastante grande com o 1º cd. Tinha tudo muito estruturado na minha cabeça, desde a composição até ao mix final.
A maneira de eu trabalhar é muito pensada e faseada. Começo com alguma ideias, que em 80% dos casos surgem através de simples melodias no synth e depois alio-as a ideias para a história e a coisa vai-se construindo e encaixando-se. Depois de ter as bases bem definidas passo para a gravação propriamente dita da minha voz, guitarras e baixo. Em paralelo envio as ideias principais para os músicos, para que estes possam ir gravando as suas partes e, no caso dos vocalistas, possam integrar-se no estilo do álbum. Depois é agendar com eles as gravações no meu estúdio. Entretanto vou sempre melhorando os mixs e melhorando as composições conforme necessário.
No final é o trabalho mais difícil e que não gosto tanto pois é muito stressante, estou a falar da mixagem. Terrível, no caso da 1º faixa Dawn on Pyther. Foi difícil, e só descansei quando ficou como queria, ou pelo menos a 99% (risos).

3 – Descreve o conceito lírico do disco, o qual iniciou no anterior “Floating World”, e terá o seu seguimento num próximo álbum.
O conceito e história pretendem atingir duas metas. A 1ª é que todos nós podemos ser criadores de outros seres e todo o álbum fala de 2 coisas, a vida e a morte, a luminosidade e a escuridão. Mas a vantagem vai sempre para o tema da criação e da vida. Pelo meio dou sempre umas ‘trancadas’ no modo de vida que vivemos, que na minha opinião é um modo de sobrevivência e não de vida. Nascemos, trabalhamos para sobreviver e depois temos um tempo para gozar os últimos anos de vida. Pode parecer muito obscuro mas é a realidade. A sociedade está construída desta forma pouco acolhedora, virada para o consumismo, para o lucro dos grandes e para a miséria e a guerra. É o que vemos todos os dias.
Não quero com isto dizer que acho que tudo é mau na vida, claro que não, e a música é um exemplo de algo de positivo e que pode mudar muita coisa, mas o Mundo podia ser bem melhor. O meu Mundo em Project Creation é isso mesmo. Todos fazem o que querem e aquilo para o qual estão vocacionados. Mesmo o sonho mais impossível, o da libelinha mecânica tornar-se humana, vai ser uma realidade no 3ª álbum a aparecer futuramente.

A segunda meta é a de simplesmente explorar um universo de ficção, escrever uma história e dar vida através da música. A meu ver a história de base tem elementos muito originais na abordagem que faz, mas a premissa de base não será assim tão nova. O Arthur C. Clarke já fez algo do género com Rama, temos o filme Dark City com uma cidade no espaço, ou seja, já quase tudo já foi inventado, o que pretendo é reavaliar os conceitos já escritos e redefinir a música e mesmo os filmes, através de Project Creation. Não pretendo ser o mais original, mas sobretudo inovar e revisitar temas já abordados.

4 – Além do conceito lírico, há também todo um trabalho muito cuidado em relação à apresentação do disco. A capa (e todo o livrete) é sensacional. Quem foi responsável pela arte gráfica? Estabelece um paralelo da arte com o conceito lírico.
Sou muito meticuloso no grafismo. Tem de estar tudo como pensei numa espécie de storyboard. A grafista genial é a Marie Guillaumet, em Aenemya.com
Gostei imenso do que ela fez e me mostrou com os protótipos, e a partir dai começou a colaboração.
Eu queria algo muito etéreo mas ao mesmo tempo terra-a-terra. Como deves ter visto, cada música tem o seu grafismo. A música todos a podemos ouvir e imaginar, mas que tal ver o que o grafista e o músico pensaram para a arte gráfica? Só pode ser bom e complementar o trabalho de som e de composição.
Fiquei muito satisfeito com os gráficos, estão de facto óptimos e a capa até mostra um cheirinho que está para vir no 3º álbum!

5 – Além disso há também vídeos preparados para temas deste e do anterior álbum. Isso está pronto? Que podes adiantar acerca desses vídeos? Tendo em conta que não serão vídeos a rodar na TV Portuguesa (nem mesmo nos canais de cabo), e que não foram incluídos nos CDs, como poderemos ter acesso aos mesmos?
Vou lutar para que os vídeos passem na TV, pelo menos na Sic radical, Mtv Portugal. Senão, temos sempre a net que hoje em dia é digamos o canal privilegiado para bandas que não sejam das editoras majors, ou seja, a maioria, pelo menos das que têm contrato discográfico.
No final deste ano vamos ter o vídeo do Floating World pronto, com som em 5.1 e uma apresentação inédita em Portugal via vídeo totalmente em CGI. Este vídeo demorou cerca de 2 anos a fazer, é todo em digital, e apresenta a história completa do 1º álbum. É muito muito ambicioso.

Estamos igualmente a preparar o vídeo com a Zara, que está a ficar muito porreiro também. Já estamos a meio da edição. Este será mais real combinado com algumas cenas em 3d.

6 – Fala-me um pouco dos músicos convidados neste disco. Quem são, como surgiu a sua colaboração, e qual foi o seu contributo ou “mais valia” para o resultado final.
Olha, em termos de voz a Zara é fenomenal. Já ouvi muita coisa, Zara ainda não tinha ouvido (risos). O Tiago ‘Linx’ continua a ser um dos meus vocalistas favoritos. A voz é excelente e não só a voz, o poder que ele tem para criar melodias, aliá-las a ritmos improváveis e gravar é genial e é uma mais-valia para o álbum. Há diversas ideias dele no álbum.
Uma palavra também para o Paulo Pacheco que, com menos anos de música que o Linx, muito bem soube agarrar os temas e pode-se ver por Forgotten Suns actual, tem uma óptima voz para Prog Metal.

Paulo Chagas é músico de eleição. Desta vez não apenas fez grandes melodias e solos de sax e flauta, como gravou e compôs a ultima parte da Voyage of the Dragonfly.
O Davis Raborn é uma novidade, e lida com a bateria de um modo muito prático. Ouviu as demos, e gravou por cima, com o seu toque pessoal ultra potente.
Depois temos o Vasco, cujos solos de guitarra continuo a invejar (risos) e o Fred Lessing que teve a ideia espectacular para o início da Flying Thoughts (faixa 2) e que mudou o rumo dessa música, para melhor obviamente. Estou a colaborar com ele no seu próximo álbum, onde participo com algumas vozes.

7 – Além de Project Creation, em que outros projectos é que andas envolvido actualmente? Que é feito dos Sonic Pulsar? No website há alguns temas soltos de outros projectos e/ou experiências anteriores. Pensas levar isso adiante e até editar esse material no futuro?
Olha, recentemente tive uma súbita vontade de começar algo novo e cortar durante uns meses com a extrema complexidade de PC. Assim, estou a gravar um álbum mais gótico, rock electrónico e mais simplista na abordagem musical. Devo colaborar com uma vocalista Sueca, mas para já ainda não posso revelar detalhes. Mas dentro de uma semana vai aparecer no nosso myspace e site oficial em sonicpulsar.com.
Sonic Pulsar está um pouco parado, porque PC é como que uma evolução de SP, ou seja Project Creation como que engoliu Sonic. Mas temos já letras e músicas para o 3º álbum de SP, mas não será para já.
Para além disto tudo tenho colaborado com o Fred Lessing e num tributo a Carlos Santana a ser editado pela Mellow Records, aliás penso já ter saído para o mercado. Deve estar em mellowrecords.com
Também iniciei um projecto puramente de metal, chamado Dimensions, mas primeiro quero concretizar o de rock gótico e iniciar o 3º Creation.
Também participei com uma música num projecto chamado Ghost Particle.

8 – Quais são as tuas influências musicais, cinematográficas, literárias, e outras, tanto neste Project Creation como nos teus outros trabalhos?
Eu tento ao máximo não ter influências, ou pelo menos não pensar nelas quando componho. Mas quando ouço a intro do Dawn on Pyther, não posso deixar de me lembrar do filme Mulholland Drive, cuja música foi feita pelo Angelo Badalamenti. Grande! Assim, como em tudo na vida, somos sempre influenciados por isto ou aquilo, e as nossas próprias influências são elas também por sua vez influenciadas. É um ciclo, ciclo esse onde se deve se reinventar ao nível da originalidade. Para dar nomes, e em termos de cinema, Stanley Kubrick, Andrei Tarkovsky, David Lynch e David Cronenberg, Alex Proyas, John Carpenter. Os filmes são 2001 Odisseia no Espaço, Solaris, Mulholland drive, Star Trek, Dark City, entre outros.
No campo literário, tenho menos tempo para ler, mas diria Stanislaw Lem, Arthur C. Clarke, Jean Christophe Grangé.
Tenho lido muita BD e novelas gráficas de mistério e horror: Steve Niles, Neil Gaiman, Scott Hampton,…
Na música será Devin Townsend, Angelo Badalamenti (trabalha muito com David Lynch), Dream Theater, David Arkenstone, entre outros.

9 – Como vês a cenas Progressiva, Rock e Metal actuais? Que comparações fazes com o passado? Que novas bandas (ou “velhas”) e discos tens ouvido actualmente e que queiras recomendar?
A Internet e a maior facilidade em gravar, está a criar um mercado enorme para os estilos progressistas o que se revela excelente para quem tem talento e quer mostrá-lo. Isto como sendo o lado positivo. Como negativo, há demasiada oferta, demais para o mercado actual, e vemos muita coisa feita sem grande qualidade. Depois temos outras que se destacam, mas que podem ser mais ou menos ofuscadas pelas produções menores que abundam. É bom e mau a meu ver, não tenho uma opinião certa a este respeito.
Vejo cada vez mais bandas a fazer o mesmo, tanto no campo do prog metal como do prog rock mais tradicional. Sempre os mesmos ritmos, estruturas, clichés. É o que ouço, Mas há sempre aquele projecto ou aquela banda que ainda me surpreendem, e ouço isso tanto nas rádios online de progressivo como em locais grandiosos como o myspace. O fenómeno myspace é algo a estudar, porque não é um espaço para projectos não editados, bem pelo contrário, é sobretudo para os grandes projectos. Depois também vemos outros com menos possibilidades, e tenho sido agradavelmente surpreendido por aquilo que encontro, tanto ao nível da música como do vídeo e grafismo. Encontrei, inclusive, um grupo de comediantes nos US absolutamente fantásticos, pouco conhecidos, ao nível dos Monty Python ou dos nossos Gatos.

Tenho ouvido várias bandas da Progrock Records, como Ghost Circus, Joey Vera, e depois muito Devin Townsend, algum Ayreon, entre outros. Agora comecei também a ouvir o novo som dos antigos Europe! Bastante bom e forte, nada a ver com os 80’s.

10 – A mesma questão, mas agora em relação à cena musical Portuguesa. Novas bandas, discos e outros. Comparações do presente com o passado.
A cena Portuguesa de prog é quase inexistente infelizmente. Não há bandas ou projectos em número suficiente para que haja de facto um género progressivo bem patente. Não ouço nas rádios géneros de música mais desafiantes, apesar de algumas incursões em rádios mais modestas. Há de facto poucos mas felizmente óptimos programas dedicados ao género e que passam progressivo. Falo do País relativo na RUA, Metalmorfose, Circulo de fogo, programa FEEDBACK na rádio de Santa Maria da feira, entre outros,…
Não posso apontar novos discos (2007) que sejam genuinamente de um género que considere rock ou metal progressivo, em Portugal, à parte um ou outro projecto menos divulgado.

11 – Podes deixar agora uma última mensagem, o espaço é todo teu.
Quero deixar uma mensagem que muitos vão achar como sendo contra a Internet e os tempos modernos, mas não é. Ora bem, há imensos blogs, sites de sharing, onde milhares de cds são trocados. No outro dia encontrámos um site com mais de 200 downloads do último álbum de Project Creation… e, sabem uma coisa? O álbum ainda nem sequer tinha saído. Isto foram 200 downloads numa semana, imaginem num mês… Project Creation e produções recentes poderiam vender muito mais, e já sabem qual é o problema….Os donos desses blogs e sites dizem que fazem um favor à música ao ajudar as labels mais pequenas e destruindo as chamadas Major. Pois meus amigos, desenganem-se, estão literalmente a matar as labels e projectos independentes. Vejam a Lion Music que já não aceita novas bandas. As vendas REAIS de Sonic Pulsar e Project Creation são baixíssimas. O meu investimento na música não será, a médio prazo, recuperado. Por isso, a net muito bem, é boa, não viveria sem ela hoje, mas por favor, ouçam os samples, ou 2 mp3s e depois COMPREM OS CDS, só assim poderemos sobreviver. Eu e todos agradecemos, e é a única forma destes géneros mais diversos poderem sobreviver. Não se esqueçam, um cd tem música e gráficos, mas podem comprar só a música por metade do preço em Mindawn.com por exemplo ou noutros sites de dowloads, há sempre uma solução para apreciar a música e lutar para que esta continue a ser produzida.
Um abraço aos amigos e fãs, e em especial para a Fénix que tem sido 5***** ;)

Hugo Flores
SonicPulsar.com

http://www.sonicpulsar.com/ / http://www.progrockrecords.com/

No comments: