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Samuel Jerónimo – Rima (2006) – Thisco

Já li várias críticas a este disco (e ao anterior de Samuel Jerónimo) e todas elas são verdadeiros ensaios filosóficos. Os críticos de música dão o gosto ao dedo e escrevem e descrevem o que o comum dos mortais não quer, nem consegue perceber. A sensação que dá ao ler esse tipo de críticas é que, a música em revisão, não está ao alcance de qualquer um. Como se os discos e a música neles contidos fossem representados por essas mesmas palavras. A música (como outro tipo de arte) é uma linguagem universal e não é necessário nenhum tipo de explicação racional e/ou filosófica para a entender e sentir. Todas as pessoas têm a sua reacção única à arte, seja ela música, pintura, escultura, literatura, etc. Posto isto, passo a fazer a minha crítica, simples e directa, apenas para dar a conhecer ao leitor o que é que está contido em “Rima”, em termos musicais e de temática geral. Assim, o leitor fica logo a saber se está no seu território no que diz respeito aos gostos musicais, ou não! E se não é seu género musical, pode ser que fique curioso com o conceito inerente à obra.“Rima” é a segunda parte de uma trilogia (Trilogia da Mudança) iniciada em “Redra Ända Endre De Fase” (Thisco 2004) e que terá fecho com o próximo “Ronda” (título provisório). Em “Rima” temos 4 faixas, todas intituladas “Verso” (e numeradas de 1 a 4), em cerca de 44 minutos de duração. As faixas ímpares são exercícios de minimalismo electro-acústico / ambiental / industrial que contrastam com as faixas pares, as quais são peças clássicas executadas ao órgão. Existe portanto, em primeira análise, uma rima alternada, isto pensando no sentido de um poema escrito, no qual os versos ímpares fazem uma rima, assim como os versos pares também o fazem entre si. Numa segunda análise existe uma certa dicotomia entre o passado, a herança cultural / musical, as tradições (representadas pelas faixas pares) e o progresso, a sociedade moderna, a evolução (representadas pelas faixas ímpares). No livrete que acompanha o CD, Samuel Jerónimo explica o sentido desta dicotomia musical e “temporal”, a qual, se adquirirem o CD, poderão ler. Depois de lida a explicação do Samuel, ouvido o disco, e tirado as minhas conclusões, a minha simplista análise e resumo da ideologia de “Rima” pode resumir-se do seguinte modo: a interligação do passado com o presente, e do presente com o futuro (e este por sua vez ao passado), sem apagar o que se fez no passado com a criação da nova arte, incorporando-a isso sim, e acumulando numa mesma obra várias estéticas distanciadas entre si pelo tempo (e pelas próprias diferenças inatas). Isto daria muito mais “pano para mangas” mas, como já referi, leiam a explicação incluída no livrete do CD, depois ouçam o disco e tirem as vossas próprias conclusões. Gostei muito mais da música e conceito deste disco do que do anterior (também com os seus pontos de interesse), o qual é, a par com a faixa “Fuga Transfigurada”, o meu trabalho de eleição de Samuel Jerónimo. Uma obra avantgarde / modernista / pós-modernista, criada por um jovem músico Português que já deu provas da sua genialidade musical, e que recomendo vivamente a mentes abertas. RDS
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Thisco: www.thisco.net
Samuel Jerónimo: http://jeronimosamuel.no.sapo.pt

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