Saturday

The Ransack – Azrael (2007) – Recital

“Azrael” é o disco de estreia dos Portugueses The Ransack. A sonoridade dos Ransack é típicamente old-school. Bem, não tão ”velha”. Anos 90, refira-se. E isso agrada-me imenso! Foi a década em que crescí e acompanhei o Underground nacional e internacional com mais afinco, marcando-me, por isso mesmo, muito mais. Pela fotografia incluída no livrete, os membros da banda parecem andar na casa do 25-30. Com certeza viveram a cena Death Metal dos 90s, tal como eu. E conseguem transpor esse ambiente para o século XXI e para o seu trabalho, na perfeição. E ainda por cima material com esta qualidade! Ao todo são 11 temas de Death / Thrash apoiados na velha escola. Notam-se influências da cena Britânica dos 90s (Benediction, Bolt Thrower, Napalm Death), toques do Death da Flórida (Malevolent Creation, Suffocation), e algumas aproximações ao Death / Dark Metal Europeu dos 90s (Entombed, Hypocrisy, Rotting Christ, Samael, Misanthrope, Nightfall, Edge Of Sanity). Ransack e o seu Death Metal técnico fazem-me lembrar ainda bandas Portuguesas da época, tais como Thormenthor, Disaffected, Exomortis, Sacred Sin, Genocide, etc. Mas desenganem-se se pensam que o álbum soa retro, muito pelo contrário, soa actual, embora com o devido respeito e gosto pelo Death Metal, nas suas mais variadas vertentes e localizações geográficas, na década de 90. Poderoso, agressivo, riffs e melodias fantásticas, mudanças de ritmos bem executadas, ambiente negro e intenso. Quanto à produção, este é mais um trabalho saído das mãos de Daniel Cardoso, um dos melhores productores actualmente no Metal nacional. Uma excelente surpresa estes Ransack. É pena a apresentação ter ficado um pouco aquém do que se pretendia a acompanhar a música. Um pouco mais de cuidado com a capa e livrete no próximo disco só pode beneficiar. 90% http://www.myspace.com/theransackband
RDS

Forgodsfake – Life Or Debt (2007) – dFX Media

Disco de estreia para os Portugueses Forgodsfake. A banda renasce das cinzas dos Shrapnel e inclui ex-elementos da referida banda e de outros nomes como Painstruck, Straight Shot ou Judged By Greed. Ao todo são 10 temas (mais intro e outro) de Power / Tharsh / Core, algures entre o old school e a new school, em cerca de 44 minutos de duração. Apesar de se poder apontar influências (Sepultura, Testament, Machine Head, Sick Of It All, Slayer, Meshuggah, Arch Enemy, Pantera, Unearth, entre outras) a banda consegue criar um som com alguma identidade. Imaginem uma fusão entre as suas anteriores bandas Shrapnel e Painstruck e, aliado às já referidas influèncias, terão uma pequena ideia da sonoridade destes Forgodsfake. Agressivo mas sem descurar alguma melodia que lhe dá outra côr; ora mais rápido e trashado ora com um groove bem pesado e a puxar dos galões do passado Hardcore. A voz é muito Hardcore para o meu gosto e algo monótona, alguma variação na mesma poderia ser benéfico, não que isso seja um aspecto negativo, apenas não é o meu gosto pessoal, preferindo vocalizações mais Thrash old school. Há alguns contrastes da mesma com linhas vocais mais limpas e melódicas, quase Emo, a cargo de um dos guitarristas e do baixista, algo que também me faz alguma confusão, talvez por lhe dar um certo ar de moda Metalcore / Nu-Metal de contraste vocalização agressiva/melódica. Mais uma vez, a minha opinião pessoal. Pode ser que vos agrade. Já os solos de guitarra, alguns riffs e melodias são bem Thrash old school, gostei. A produção, a cargo de Daniel Cardoso, atribui um som crú e agreste a “Life Or Debt” mas mantém cada peça da engrenagem bem definida, conseguindo-se ouvir na perfeição cada instrumento e linha vocal. Fora alguns pormenores que não me agradam pessoalmente, mas que podem agradar a outros, uma boa surpresa no panorama Metal / Hardcore nacional. 75% http://www.forgodsfake.com/ / www.myspace.com/forgodsfake
RDS

Thursday

Tourettes – Treason Songs (2007) – Armageddon Music

Quando ví a capa deste “Treason Songs” (fantástica!) fiquei logo intrigado sobre o conteúdo do CD. Já tinha ouvido um tema promocional do anterior disco ”Sicksense” (chamavam-se ainda Tourettes Syndrome) e tinha-me chamado a atenção. Não sei se o disco era assim tão bom quanto parecia pela amostra, nunca o cheguei a ouvir todo. Tirei este novo disco da capa promocional. Coloquei no leitor. Carreguei no play. A introdução prometia. A seguir, a pura desilusão. Os Australianos Tourettes (o nome também não ajuda muito) fazem uma mistura esquisita de Death Metal com grooves à la Lamb Of God, toques de Pantera e vocalizações à la Arch Enemy em contraste com vozes limpas mais Heavy Metal. Para ajudar à confusão, há por aqui algumas influências de Grunge (!), Death melódico Sueco e até trejeitos de Metal Progressivo / Avantgarde. Uma verdadeira caldeirada de estilos! A produção também não ajuda muito, tendo o som ficado demasiado crú para o seu próprio bem. Um disco demasiado heterogéneo, de uma banda que ainda não conseguiu assimilar devidamente todos os seus gostos e influências. Faltava-lhes ainda alguma garagem, maquetes e rodagens ao vivo para ganhar experiência, para poder criar algo de consistente e próprio. Este disco não tem capacidade para fazer frente aos milhares de discos de Metal que são lançados hoje em dia. Actualmente qualquer banda consegue gravar e editar um disco facilmente, sem ter que passar pelo penoso (mas gratificante) circuito Underground, como outrora o fizeram as grandes bandas de hoje. Sinais dos tempos. Aguardemos por algum amadurecimento de Tourettes e um terceiro disco muito melhor. Isto é, se conseguirem sobreviver na selva que é a indústria musical hoje em dia! 40% http://www.tourettes.com.au/ / www.myspace.com/tourettessf4l / http://www.armageddonmusic.de/
RDS

Distribuido em Portugal por Compact Records: http://www.compactrecords.com/

Position Parallèle – Position Parallèle (2007) – Hau Ruck! / Tesco

Este é um projecto de Geoffry D. (Dernière Volonté) e Pierre Pi (que também já fez parte dos DV). 80’s Synthpop vocalizado em francês é o que nos é apresentado nestas 8 faixas. Sigue Sigue Sputnik, pela simplicidade da electrónica e alguma atitude naive, e Soft Cell pelas melodias vocais, são os dois nomes que vêm à cabeça. Felizmente, o disco não se arrasta por muito tempo, apenas 36 minutos. E digo felizmente porque o que aqui está é não é nada de especial, muito simples, cliché e parece ter sido feito um bocado à pressa. Algo do género: “vamos lá fazer isto de uma maneira descomprometida e assim sai de forma natural”. E saiu isto. Não tem muito de apelativo, nem para os amantes do género, nem muito menos para outro tipo de ouvidos. E, modesta opinião, a língua francesa não ajuda nada. Ou então sou eu que tenho alguma aversão à sonoridade da língua francófona. E esta capa? A ideia devia ser algo retro, à anos 80, mas o resultado final não é lá muito satisfatório. Isto até mancha o bom nome das duas entidades que põem este disco no mercado. A evitar. A não ser que sejam fãs diehard do género. E mesmo assim, descarto as responsabilidades de vos ter dado a conhecer este disco! E vou já tirar isto do leitor porque me está a fazer alguma confusão na cabeça! 20% http://www.myspace.com/positionparallele / http://www.hauruck.org/ / www.tesco-germany.com/
RDS

Wednesday

V/A – All Souls Arise (2007) – Woven Wheat Whispers

Em paralelo com a colectânea “John Barleycorn Reborn: Dark Britannica”, a Woven Wheat Whispers lançou este “All Souls Arise” a preço reduzido. Edição que, segundo eles, é uma boa companhia à já referida obra-prima. A edição marca também o Samhain, ou novo ano céltico, ou véspera de todos os mortos, ou halloween, como preferirem. A passagem do Outono para o Inverno. Uma altura de honrar os antepassados, marcar a passagem de estação e de fazer fogueiras comunitárias.
São 25 temas, muitos deles exclusivos para esta compilação, que atingem quase 2 horas de música. A linha é a mesma de ”John Barleycorn Reborn”, Folk, Dark Folk, Wyrd e alguma tradição medieval, embora aqui o ambiente de alguns dos temas não seja tão negro mas sim, como já referí, de celebração. Recomendo. 80% http://www.wovenwheatwhispers.co.uk/
RDS

V/A – John Barleycorn Reborn: Dark Britannica (2007) – Cold Spring / Woven Wheat Whispers

A edição é da Cold Spring e trata-se de um disco duplo, com 33 temas, num total de mais de 2 horas e meia de música. No entanto, a Woven Wheat Whispers tem este item para venda online, em formato mp3, e adiciona-lhe ainda um 3º disco (apenas disponível online) com mais 33 artistas/temas. No total são 66 temas que ultrapassam as 5 horas de duração. É esta a edição que tenho em mãos (ou aliás, no pc, pois é uma edição em mp3) e que passo a descrever.
A obra vem dividida em 3 partes distintas, conforme os discos, intituladas “Birth”, “Death” e “Rebirth”. Folk, Dark Folk, Medieval, mas sempre numa vertente negra, tradicional, anciã, pura, com sentimento e alma. Não vão encontrar aqui nenhum tema daquela vertente alegre e festiva que a maioria das pessoas associa à palavra Folk. O título é inspirado em “John Barleycorn”, uma das mais antigas músicas da tradição Britânica, datada de 1588. Incluem-se até, aqui, diversas interpretações do referido tema, assim como de outros temas tradicionais, tão antigos quanto este. A complementar a música incluem-se textos interessantíssimos sobre toda esta temática, uma descrição faixa a faixa e belas imagens a acompanhar, tudo embalado num conjunto de luxo.Seria maçador estar a enunciar todas as bandas incluídas, e também não vou destacar nenhuma pois, a obra dever ser ouvida, assimilada e interpretada com um todo. Uma bela surpresa esta colectânea. Fantástico! Recomendo vivamente a todos os apreciadores de Folk, Dark Folk, Wyrd, world music, gótico, ethereal, songwriters e todo o curioso que tenha mente aberta o suficiente para assimilar “John Barleycorn Reborn: Dark Britannica” em toda a sua plenitude! Só não leva os 100% porque não tenho o suporte físico, mas o conjunto online também não fica muitos pontos atrás. 95% http://www.john-barleycorn-reborn.com/ / http://www.myspace.com/johnbarleycornreborn / http://www.coldspring.co.uk/ / http://www.wovenwheatwhispers.co.uk/
RDS

Tuesday

The Joy Of Nature & Post Crash High - Críticas

The Joy Of Nature – The Shepherd’s Tea EP (2006/7) – Edição de Autor / Woven Wheat Whispers
TJON é um projecto a solo do Português Luis Couto. Esporadicamente dão-se participações de outros artistas, não só da área da música, mas de outras vertentes artísticas. Este é o seu segundo registo e foi lançado em CD-R de 3”, numa edição limitada a 21 exemplares, devidamente embalados num luxuoso pacote feito à mão. Infelizmente essa edição está esgotada. O que eu tenho em mãos é apenas um CD-R normal com a gravação dos 4 temas e ainda algumas faixas que fazem parte de diversas colectâneas. Para quem não conseguiu a edição especial, em suporte físico, este EP está disponível através da Britânica Woven Wheat Whispers, venda online em formato mp3.
Em termos líricos, este é um EP conceptual baseado na lenda do pastor e da donzela do lago, do manuscrito Gaulês do século XIII, “Meddygon Myddfa”. Em termos instrumentais, passo a descrever sucintamente. A faixa de abertura, “The longest and deepest sleep for the shephered and the maiden in the woods, near the stream”, ultrapassa os 15 minutos de duração, e é basicamente um tema ambiental com toques Folk e Industrial. Gosto mas o melhor ainda está para vir. Segue-se “Enchanting lullaby for Su, the maiden”, ainda com o toque ambiental mas agora mais centrado na Folk. Continuamos bem, mas vai melhorar. Seguem então, não uma mas duas, “pièce de résistance”, os temas “A slumber hangs upon the walls” e “The shepherd and the lake maiden”. Dark Folk que transpira um verdadeiro sentimento Lusitano, depressivo, melancólico, sonhador. Saudade. Depois de, nos últimos anos, o Fado ter perdido esse sentimento intrínseco à alma Lusitana, é bom constatar que ainda se consegue transmitir na música, mesmo que noutras áreas atípicas à cultura deste país. Esta característica é mais notória em “A slumber hangs upon the walls”, que é o momento alto do disco.
Os dois primeiros temas são muito bons, mas são muito lugar-comum da Folk / Dark Folk / Ambiental / Industrial. Mas os dois seguintes… Ah! Só por estes dois temas vale a pena a aquisição de “The Shepherd’s Tea”. 80%

The Joy Of Nature – The Shepherd’s Tea at 7 (7”) (2006) – Little Somebody
Um 7” que inclui dois dos temas do EP acima descrito e, por coincidência, os temas que eu destaquei. A descrição dos temas está na crítica anterior logo, não há muito mais a referir deste item, a não ser que é bom ver que ainda se aposta no vinil, como suporte físico para a música. Além disso, é um formato que eu venero, o disco de 7 polegadas. Não consigo descrever a adoração que tenho por estas “pequenas” peças de arte, e de coleccionador. No geral, a pontuação deste tem que ser mais alta, isto porque não é uma gravação em CD-R, é um 7”, e porque contém dois temas fantásticos. 95%

Participações em Compilações: O tema “Persona”, incluído em “Wilde Jaeger” (Percht / Steinklang Industries), segue a linha de “A slumber hangs upon the walls”, com aquele espírito saudosista Lusitano. Fantástico. “The twilight of the old king” faz parte de “All souls arise”, lançada pela Woven Wheat Whispers, e também é um tema fabuloso, mas encontra-se mais na vertente Dark Folk / Ambiental. “The mad woman who lives at the end of the woods” também está acima da média e integra “Donec ad metam”, uma colectânea online gratuita da # Neo-Folk.it. A linha é a mesma do tema anterior. Finalmente, “Fire only rests when there’s nothing left to burn”, faz parte de “Falésia” (Enough Records), uma colectânea online recheada de excelentes nomes Lusos de Dark Folk, Electro, Ambiental e Industrial. Para variar, não desilude, pelo contrário. Há também participações em “Honi soit qui mal y pense” (também disponível na # Neo–Folk.it), e dois temas em “The Nemeth” da Reaping Horde.

Post Crash High – The Apocalypse Came Yesterday And No One Noticed (2005) – Edição de Autor
Projecto paralelo a The Joy Of Nature. Este é o único registo de Post Crash High e trata-se de um CD-R de edição limitada a 77 exemplares. Além das 10 faixas áudio (que ultrapassam a hora de duração), temos como complemento uma faixa multimédia com imagens e textos a acompanhar cada um dos temas. Este é o lado mais obscuro e experimental de Luís Couto. O ambiente contido neste apocalipse sonoro é denso, obscuro, sufocante, apocalíptico. A orientação varia um pouco de tema para tema, mas no geral temos inspirações Industrial, Martial e algum Dark Folk. Enquanto que em Joy of Nature a música está intimamente ligada à Natureza, Post Crash High é uma banda sonora para o lado mais negro da alma humana, dor, desespero, depressão, angústia, ódio, falta de vontade de viver. Em contraste com a música, a capa, contracapa e livrete incluem desenhos de coelhos a dançar na floresta. Mas a capa é um pouco ambígua. Pode significar muita coisa. Uma experiência não recomendada a espíritos mais susceptíveis. 85%

The Joy Of Nature - Entrevista

1 – Fala-me um pouco da história dos The Joy Of Nature desde a sua concepção até à data.
A ideia inicial para The Joy of Nature and Discipline surgiu em 1997, mas só começou a tomar forma musical em 1998. Em 1999, por convite da Reaping Horde, gravámos dois temas para a compilação "The Nemeth". Surgiu da parte da mesma editora o convite para um álbum, que foi lentamente gravado no período entre 2000 e 2002 e editado em 2003. No final de 2005, ao mesmo tempo que surgiu a oportunidade da reedição de "The Fog that Life Is Haunted By" pela Bunkier Productions, decidimos recriar o projecto, utilizando mais instrumentos acústicos e muitos menos samples e sintetizadores; o conceito, com a redução do nome não sofreu propriamente uma alteração, apenas se tornou menos enevoado. Em 2006 editamos o single em vinilo "The Shepherd's Tea at 7" pela americana Litte Somebody Records, seguido em Dezembro pelo mini-álbum "The Shepherd's Tea", editado inicialmente em número de 21 exemplares, cada qual com uma pintura original diferente, depois editado em mp3 pela Woven Wheat Whispers. 2007 foi um ano em que apenas editamos alguns temas em compilações. Desde 2006 que estamos a preparar a trilogia "The Empty Circle/O Círculo Vazio".
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2 – No vosso website apresentam The Joy Of Nature como um projecto multimédia que tem a música como base. Queres desenvolver um pouco esta descrição e referir quais são os outros domínios do projecto para além da vertente musical?
Os outros domínios, fora o musical, têm sido essencialmente a pintura e a escrita, tendo havido uma edição nossa – "The Shepherd's Tea" – acompanhada de um conto. A fotografia e o vídeo poderão também ser utilizados a seu tempo. Tudo gravita sempre à volta da música, mas muitas vezes torna-se importante complementá-la com outras formas de arte.
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3 – “Nature rejoices in Nature, and nature contains Nature”. Esta, segundo apresentado no vosso website, é uma das influências na designação do projecto, que anteriormente se apelidava de The Joy Of Nature And Discipline. Fala-me um pouco da origem do nome do projecto e o porquê da mudança/simplificação do nome.
A mudança de nome deu-se a uma certa mudança de sonoridade (mais acústica) e também a um maior enfoque na componente hermética do projecto. "Nature contains Nature and Nature rejoices in Nature" foram palavras retiradas do livro hermético "Turba Philosophorum". Temos interesse na tradição hermético-alquímica que foi das últimas formas "Tradicionais" a desaparecer (se bem que não completamente) no mundo ocidental, apesar de não ser exclusiva deste. Mas em que consiste a tradição hermético-alquímica? Os seus símbolos e ensinamentos são extremamente complexos e, essencialmente, codificados, devido não apenas à inquisição/censura, como também por forma a afastar as massas dela.
O nosso interesse por aquilo que hoje é apelidado de "esotérico" não se fica por aí: temos interesse pelo ioga tântrico, pela literatura cavaleiresca medieval, pelo taoísmo e budismo chan, etc. Porque há uma unidade em tudo isto. Não se trata de uma miscigenação de diversas representações tradicionais, mas sim da procura da sua essência.
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4 – Quais são as vossas influências musicais, literárias, artísticas, cinemáticas, ideológicas / filosóficas, e de outras proveniências?
Das musicais falaremos adiante. Quanto às literárias, autores como Julius Evola, René Guénon, Mircea Eliade, Ernst Jünger, Gustav Meyrink, Yukio Mishima e William Blake dizem-nos muito. Recolhas de contos tradicionais, textos herméticos e alguns clássicos religiosos (no sentido de re-ligação ao divino), como o "Tao Te Ching", fazem parte das nossas leituras frequentes. Em termos de cinema, as nosssas preferências dirigem-se a realizadores como Andrei Tarkovsky, Ingmar Bergman, Stanley Kubrick, David Lynch e primeiros filmes de Peter Weir.
Não nos enquadramos propriamente numa determinada ideologia ou concepção filosófica. A maior fonte de inspiração são as experiências individuais, os fragmentos da Tradição que, por aqui e ali ainda se encontram, na maior parte das vezes já desvitalizados e, quando raramente aparecem, as experiências supra-individuais.
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5 – Descreve os processos de composição e gravação dos vossos trabalhos.
Costumamos ir compondo, gravando e, às vezes, até misturando, ao mesmo tempo. Gostaríamos de no futuro proceder a uma divisão entre as várias fases, mas é difícil alterar hábitos já bastante enraizados. As ideias para os temas surgem, aparentemente, de coisa alguma e vão-se revelando aos poucos.
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6 – Estes lançamentos são típicos do universo musical no qual vocês se inserem. Edições limitadas, com um carácter DIY, e com um cuidado especial na apresentação dos mesmos. Toda esta componente artística, estética e, até, ideológica é importante na banda?
Tentamos encarar a arte de uma forma o menos possível comercial. Por um lado, temos edições em quantidade (que permitem que o trabalho chegue às pessoas que nele possam sentir algo de especial), e outras em qualidade, edições em que cada exemplar é diferente. Este aspecto não possui necessariamente um carácter ideológico para lá de nos recusarmos a que o nosso trabalho seja considerado como um produto.
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7 – Além dos vossos trabalhos a nome próprio têm visto os vossos temas incluídos em diversas colectâneas. Como é que surgem estas participações?
Até ao momento todas surgiram através de convites. A participação em compilações não só é uma boa forma de apresentar, de forma breve, o nosso trabalho, como também de editar temas que não se enquadram nos trabalhos que, em dado momento, estamos a realizar. Porque todos os nossos trabalhos têm um conceito, mesmo que não facilmente perceptível.
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8 – Existem apresentações ao vivo (ou de outro tipo) ou The Joy Of Nature é apenas um projecto de estúdio?
Quando as condições certas existirem contamos fazer apresentações ao vivo, mas com arranjos diferentes dos dos discos. Não nos agrada utilizar bases pré-gravadas em concertos, preferimos optar por não usar electrónica nos concertos, o que torna mais difícil reunir as condições necessárias. Outro tipo de apresentações deverão surgir brevemente.
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9 – Estão a preparar a trilogia “The empty circle / O círculo vazio”, cuja primeira parte (“Swirling lands of disquiet and catharsis – A theatre lost in the vast abyss of starry skies”) está quase pronta. Fala-me desta trilogia. Qual é o conceito por detrás da mesma?
Temos estado a trabalhar nesta trilogia há quase dois anos, praticamente todos os dias. A trilogia divide-se em três partes, sendo cada uma delas relacionada com as três principais fases da obra hermética: Nigredo, Albedo e Rubedo. O primeiro disco será mais psicadélico e experimental, enquanto que o segundo será mais "folk"; o terceiro não será um disco muito fácil de descrever, mas podemos adiantar que denotará algumas influências orientais. Não diremos mais sobre a trilogia. Depois, cada um, a partir dela, fará as suas interpretações e buscas individuais. É o que valoriza a criação artística nos dias que correm, ou talvez, nos que sempre correram.
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10 – Além de The Joy Of Nature existe ainda o projecto paralelo Post Crash High, o qual já tem um disco editado, “The apocalypse came yesterday and no one noticed”, que, além da parte áudio, contém diversos elementos multimédia. Fala-me deste projecto numa panorâmica geral.
Enquanto The Joy of Nature consiste num olhar dirigido ao interior, Post Crash High olha para fora. Daí o uso predominante, neste último projecto, de sons electrónicos. Depois de Post Crash High, tornou-se natural o regresso de The Joy of Nature, como a alternativa interior ao mundo apocalíptico descrito por Post Crash High.
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11 – Como vês a evolução da cena Underground nacional desde que nela entraste até hoje? Que bandas, editoras, promotores de concertos, revistas e outros da cena musical podes realçar? E de quais já extintos tens saudades?
Nunca senti que The Joy of Nature tivesse entrado numa "cena".
Gostamos e temos afinidades com Sangre Cavallum, com os quais tem havido colaborações mútuas, Triarca são um projecto a ter em atenção, Karnnos e Wolfskin continuam com trabalhos muito interessantes mas, fora os artistas referidos, ouvimos principalmente música folk portuguesa – Gaiteiros de Lisboa, Galandum Galandaina ou Zeca Medeiros. Também dedicamos algum tempo a ouvir recolhas de música "folk" portuguesa, transmitida de geração em geração. A nível de editoras, foi uma boa notícia o aparecimento da Folcastro. Sentimos saudades da Forgotten Blood e de outras pequenas editoras de cujos nomes já não nos recordamos, mas que foram capazes de criar um verdadeiro "underground" sem interesses comerciais. A Robur foi uma publicação interessante, mas não tenho seguido, desde há muito tempo, revistas e promotores de concertos.
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12 – E fora de Portugal? Que nomes te chamam a atenção hoje em dia?
Musicalmente, apreciamos muito artistas como Current 93, Vashti Bunyan, The Pentangle, The Chieftains, Coil, Swans, Nico, Michael Cashmore/Nature and Organisation, Luciano Cilio, Arvo Part, primeiros trabalhos de Alan Stivell e Milladoiro. Os nossos gostos são um pouco ecléticos e abrangem desde a folk à música medieval e clássica, a experimentais, como os já referidos Coil, e Nurse With Wound, como também a algum rock, como a Joy Division ou os primeiros discos de Sonic Youth.
Estivemos recentemente num concerto de Stephan Micus, cujo trabalho já conhecíamos e admirávamos, e ficamos deslumbrados.
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13 – Tens agora espaço para deixar uma última mensagem aos leitores da Fénix.
Sat Nam.
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Questões: RDS
Respostas: Luis Couto
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Contos de Terror do Homem-Peixe (Fuzz)

"Contos de terror do Homem-Peixe" (Chimpanzé Intelectual / CTLX)

"Contos de Terror do Homem-Peixe" - Esta obra ímpar editada conjuntamente pelas Edições Chimpanzé Intelectual (http://www.chimpanzeintelectual.com/) e o Cineclube de Terror de Lisboa (http://www.ctlx.com/), pretende de certa forma homenagear um género maldito que entre nós tem pouca tradição, o "Terror", apesar de ter dado azo a algumas das maiores obras da Literatura Mundial. Romances como "Drácula", de Bram Stoker, "Frankenstein", de Mary Shelley, os variadíssimos contos de Edgar Allan Poe e Lovecraft, ou os incríveis livros de Stephen KIng são apenas exemplos de como o género moldou o imaginário da Humanidade, dando azo às mais variadas adaptações artísticas ao longo dos tempos. Neste livro verdadeiramente único no panorama editorial Português, autores conceituados como Baptista-Bastos, Fernando Ribeiro (Moonspell), Possidónio Cachapa, João Tordo, Rui Zink, David Soares (considerado o nosso maior escritor na área do Terror), João Barreiros, António de Macedo e João Seixas juntam-se aos novatos Pedro Martins e Guilherme Trindade Filipe, vencedores do "1º Concurso Contos de Terror CTLX", que precedeu o livro, e apresentam onze histórias terroríficas com abordagens muito distintas ao género, acompanhados pelas incríveis e originais ilustrações do desenhador João Maio Pinto. Os "Contos de Terror do Homem-Peixe" estão já à venda nas livrarias (se não virem por favo perguntem) de todo o país e também no site http://www.webboom.pt/, mais precisamente em http://www.webboom.pt/ficha.asp?ID=168319, para quem não queira ou tenho muito medo de ir à livraria.

Fogo No Gelo Festival